quinta-feira, 12 de abril de 2012

Opinião

Estudo de Rodnei Vecchia mostra que projeto da ECBrasil é desvantajoso para Piraju

12/04/12 – 01h15

Alguém leu o estudo de Rodnei Vecchia publicado, sob a forma de anexo, na última edição do jornal Observador? Passei o último final de semana lendo o material. As informações apresentadas por Vecchia são oportunas, sobretudo se levarmos em consideração o fato de que o Paranapanema continua na mira daquela empresa sulista (refiro-me à ECBrasil). Outro argumento favorável à publicação diz respeito ao debate em torno da produção de energias renováveis. No final do mês passado, o Estadão noticiou que, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), 1,3 bilhão de pessoas no mundo ainda não dispõe de eletricidade. Ainda segundo o jornal, “o crescente aumento do consumo de energia é uma preocupação mundial”. É por essas e outras que o tema precisa ser discutido com dados reais, isto é, científicos.

Aos atuais e futuros representantes da população pirajuense, um recado: ainda conservo a esperança de que o embrutecimento será vencido pela curiosidade e, em especial, pelo senso de coletividade. Procuremos, sempre que possível, enriquecer nosso repertório com informações e justificativas plausíveis, capazes de serem convocadas às pressas, sem que o indivíduo precise adiar suas decisões em nome da hesitação! Observemos o caso do vereador José Eduardo Pozza (PTB). Ele não mudou sua opinião a respeito da construção de mais uma hidrelétrica em Piraju por entender que o empreendimento não é viável para o município? A conversão de ideias ocorreu após o parlamentar se dispor a confrontar seu lado, até então, pró-usina. Agora, quando a indecisão não supera o lodaçal do desinteresse... Por se falar nisso, Vecchia diz que Piraju precisa ir ao encalço de jurisprudências para conseguir o ICMS gerado pelas três usinas, de forma a incrementar a economia do município, em especial o setor turístico, cujo orçamento é muito aquém das necessidades de uma estância que daqui a alguns meses comemorará 10 anos.

Bem, mas não é disso que quero tratar aqui. Depois da esclarecedora palestra ministrada pelo professor Edson Piroli, da UNESP de Ourinhos, ocorrida na Loja Maçônica Cavalheiros do Sul, o estudo de Vecchia pode ser admitido como mais uma contribuição para o municiamento de diálogos profundos acerca da utilização dos recursos hídricos no século XXI. Divido em quatro partes, o trabalho mostra, por exemplo, que “ainda é raro construir qualquer projeto de desenvolvimento com objetivos claros, que contemplem e atendam simultaneamente interesses econômicos, sociais, ambientais e culturais de uma sociedade”. Outro ponto interessante é que, em meio à urgência para que o acesso à energia seja resolvido até 2030 (a meta é da Organização das Nações Unidas), a participação popular nas decisões continua marginalizada. O povo só é lembrado quando os pró-usinas anunciam seus “espelhinhos” sob a forma de estratégias de convencimento que não poupam nem mesmo pessoas sem a mínima vocação cênica!

Ao falar sobre os principais impactos provenientes da construção de usinas hidrelétricas, Vecchia aponta 13 pontos positivos e negativos. Apesar da equivalência numérica, os aspectos negativos ocupam um espaço bastante significativo no estudo. Se isso quer dizer alguma coisa, prefiro não falar nada. O estudo está aí, aos olhos de todos. Façamos um esforço para combater o canto da sereia com argumentos racionais, que não levem em consideração o interesse de uma parcela da população, mas sim o anseio do maior número possível de habitantes. Vecchia diz que as escolhas cabem ao “conjunto da sociedade”. Além disso, e aqui eu quero fincar meu estandarte contrário aos princípios antropocêntricos, as decisões devem, sob pena de cobranças futuras, se atentar para a preservação da natureza. O discurso capitalista trata com demasiado eufemismo os danos que suas propostas podem causar ao meio ambiente. É justamente por isso que necessitamos de antídotos contra esse tipo de artimanha! Que tal colocarmos em pauta a modernização das usinas hidrelétricas e a racionalização do uso das fontes já existentes? Talvez isso solucione pelo menos nossa demanda interna.

Mas qual é a conclusão do estudo de Vecchia? Ter ou não ter mais uma usina em Piraju? De acordo com dados levantados por ele, o projeto da ECBrasil não é viável para o município. Os impactos negativos nas áreas ambiental, econômica, social e cultura depõem contra o empreendimento. “A única área que traz mais benefícios positivos que negativos é a econômica, a qual perde importância no cômputo geral, em razão dos demais malefícios ambientais, sociais e culturais”, afirma. Consciente dos reais problemas, o autor nem sequer usa os supostos ganhos que os pirajuenses teriam com a artificialização das corredeiras do Paranapanema para a prática de canoagem slalom. Não é preciso ter muitos neurônios para entender que esse argumento não passa de uma forma demagógica para acolhermos a usina.

Finalizo minhas impressões acerca do estudo com a expectativa de que os representantes do povo aceitem com bastante apetite o desafio de cruzar o Rubicão (a proposta é do autor, que, ao se valer de um episódio histórico bastante emblemático, chama nossa atenção para a importância de escolhas com alto valor de transformação). Já é hora de sairmos do marasmo, não é mesmo? Avante! Que a audácia guie nossos passos!

_____________

Diego dos Reis, repórter

3 comentários:

Vanessa Kairone D'Oyá disse...

Ótima matéria Diego. A parte isolada favoravel a PCH esta com a metade de sua fatia nos bolsos...compreendamos isso...

Sonham muito em favor de nada e os que se dizem a favor do tal "progresso" talvez nem saibam de que a palavra realmente se trata, ou arquiva-se valendo apenas seus interesses particulares.

Abraços.

Nayara Lago disse...

Parabéns Diego! Ótimas colocações!

Rodnei Vecchia disse...

Obrigado Diego.É dessa forma que se constroi a democracia.