Diego dos Reis de Oliveira
Por volta das 17h45 desta quarta-feira,
28, uma moradora foi até minha casa. Ela tinha acabado de flagrar um gato com
um enorme ferimento na cabeça. O animal estava numa árvore localizada na Rua
Major Diogo Goulart, altura do número 98, no Jardim Jurumirim.
FOTO: Diego dos Reis de Oliveira |
A cidadã entrou em contato comigo por
saber que atuo como voluntário na Associação Protetora dos Animais de Piraju
(APRAPI). Preocupada, a cidadã perguntou se eu poderia acionar o Centro de
Controle de Zoonoses (CCZ), uma vez que ela estava sem celular.
Ao ser informado que o gato estava a
alguns metros da minha casa, lancei-me imediatamente em direção ao local. Assim
que constatei a veracidade do caso, telefonei para o chefe do CCZ, Marcelo
Vieira.
Ele estava na Vila Tibiriçá –
praticamente do outro lado da cidade –, socorrendo um cachorro que fora vítima
de atropelamento. Vieira foi enfático ao dizer que as veterinárias do CCZ
suspenderam o atendimento médico fora do horário de expediente porque a
prefeitura não está pagando hora-extra.
O chefe da repartição questionou-me se
havia alguém disponível para resgatar o animal e levá-lo para uma determinada
clínica veterinária da cidade. Detalhe: ele não ofereceu nenhuma garantia de
que o médico fosse prestar o serviço. A impressão que ficou foi a de que teríamos
que contar com a sorte.
Em resposta, eu disse que, naquele
momento, estava sozinho no local e que não poderia fazer nada, a começar pela
impossibilidade de subir na árvore. E mesmo que eu subisse, onde eu iria
colocar o animal? E se o gato estivesse fraturado? Penso que qualquer manejo
inadequado poderia agravar ainda mais a saúde do felino.
Na sequência, telefonei para o diretor
do Departamento Administrativo, Paulo Sara. O responsável tomou conhecimento do
caso e, de imediato, assumiu o compromisso de falar com o chefe do CCZ a fim de
definir a logística em torno do resgate e encaminhamento do animal.
Minutos depois, Sara enviou mensagem no
meu whatsApp, informando que acabara de ligar no Corpo de Bombeiros, e que a
“ideia” era a de levar o animal para a mesma clínica citada por Vieira.
O diretor chegou a perguntar seu eu
poderia transportar o gato até a clínica. Por conta da correria da situação,
nem cheguei a respondê-lo. Dois minutos depois, Sara escreveu: “Se você estiver
sem veículo, creio que os bombeiros levam o animal na clínica”.
Ao se valer da palavra “creio”, Sara
caiu na mesma imprecisão do chefe do CCZ, na medida em que apresentou uma
informação sem garantia nenhuma, proferida na esteira do mero achismo.
Nesse ínterim, eu publiquei o caso nas
redes sociais na esperança de que alguém me ajudasse. A resposta ficou aquém do
esperado. As manifestações ficaram circunscritas a críticas endereçadas à
prefeitura. Uma delas, assinada pelo meu amigo Vitor Machado, merece ser
reproduzida aqui: “Precisa criar uma norma que proíba os animais de se ferirem
após o horário de expediente pra não prejudicar a máquina pública”.
Meu próximo passo foi ligar para o
Corpo de Bombeiros. Os militares, vale dizer, já tinham sido acionados por
Paulo Sara. A corporação, porém, não recebeu qualquer informação quanto à
clínica veterinária para a qual o gato seria encaminhado. E mais: os bombeiros
sequer sabiam quem iria assumir o transporte.
Em conversa com o atendente do 193,
dispus-me a ir até o local para indicar a localização exata do animal. Até
então, eu estava em casa, recarregando o meu celular.
Ao voltar na Goulart, deparei-me com
uma completa escuridão. Não dava pra ver nada. A situação só foi resolvida com
a chegada dos bombeiros, os quais se valeram de farta iluminação para clarear o
ambiente. Apesar dos esforços da corporação, porém, o animal já tinha evadido
do local.
O relógio acaba de bater 21h30. Eu
estou aqui, no conforto do meu lar. E o gato? Como se não bastasse o fato de
estar solto, correndo inúmeros perigos, o animal carrega uma ferida que, se for
não curada a tempo, pode gerar miíase, a popular bicheira.
O insucesso do resgate de hoje
significa que o caso está encerrado? Amanhã, por ventura, a prefeitura irá se
mobilizar para encontrar esse gato? A julgar pelas experiências anteriores,
creio que não, infelizmente.
Vejamos a situação da prefeitura. A
administração alega que não tem condições de recolher cães e gatos em situação
de abandono por falta de espaço. Eu concordo com isso. Agora, não oferecer
atendimento imediato a um animal ferido?
A prefeitura não deveria dispor de um
canal eficiente e ininterrupto entre a população e o CCZ, de forma a evitar que
casos como esse precisassem passar pela APRAPI?
O fato de a entidade continuar sendo
procurada para resolver casos envolvendo animais mostra, entre outras coisas,
que o CCZ não se esforça para deixar claro que animais em situação de rua são
de sua inteira responsabilidade.
Você, amigo leitor, sabia que o órgão é
obrigado a recolher todo e qualquer animal encontrado solto nas vias públicas de
Piraju? Isso está previsto na lei municipal nº 3.057/2007. Eu sei que isso, no
momento, é utópico. Contudo, o recolhimento deve ocorrer nos casos em que o
cachorro ou gato demandar atendimento médico. É o mínimo!
Se a prefeitura não atua no sentido de
estancar o abandono de animais, é imprescindível que, pelo menos, as vidas que
estão perambulando a esmo pela cidade sejam assistidas pelo CCZ, sobretudo em
situações como a que ocorreu na data hoje.
Não quero
acreditar que a prefeitura negligencie o assunto por saber que, mais cedo ou
mais tarde, sempre alguma pessoa compassiva vai aparecer para assumir o caso sem
que isso gere despesas aos cofres públicos.
O que mais
me revolta é que, a qualquer momento, outras vítimas podem vir à tona sem que
haja, na sequência, a resposta imediata e eficiente da prefeitura. O cenário
para que isso aconteça está posto: animais soltos já fazem parte da paisagem
urbana de Piraju. E isso, vale dizer, não escandaliza a maioria dos cidadãos.
Logo, tal realidade não sensibiliza a classe política, uma vez que nossos
representantes só são cobrados por ações que envolvam apenas os seres humanos.
Espero que
você, amigo leitor, tenha se comovido com minhas palavras. Espero que, na
medida do possível, sua (possível) indignação seja somada à minha, de forma a
mudarmos as prioridades que impedem que os animais sejam tratados com a mesma
atenção conferida às pessoas.
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