Negligência da prefeitura de Piraju contribui para morte de animais

Administração ignora casos de maus tratos e não age de acordo com legislação

Uma égua morreu após ser encontrada em situação de maus tratos num terreno localizado na Vila Bérgamo, em Piraju. O caso ocorreu na noite da última sexta-feira, 31.

FOTO: Associação Protetora dos Animais de Piraju

Voluntários da Associação Protetora dos Animais de Piraju (APRAPI) receberam denúncia anônima informando que o animal estava caído, ferido e com quadro grave de desnutrição.

De imediato, a entidade acionou a Polícia Militar, que prontamente foi até o local. A polícia identificou e qualificou o proprietário do animal, um jovem de 18 anos com antecedentes criminais. O responsável foi apresentado no plantão policial, onde foi lavrado um termo circunstanciado.

A égua foi atendida por um veterinário particular, que constatou a situação de maus tratos. Após o atendimento médico, o profissional preferiu manter o animal no terreno.

No dia seguinte, a APRAPI foi avisada logo de manhã que a égua estava prestes a cair num ribeirão que fica a alguns metros do local onde o equino foi encontrado. A associação pediu ajuda ao Corpo de Bombeiros.

Os bombeiros foram até o terreno e, com ajuda de um guincho, conseguiram retirar o animal e levá-lo para uma área segura, onde continuou recebendo tratamento. Contudo, em razão da gravidade do caso, a égua não resistiu e morreu.

Oito dias antes, essa mesma égua tinha se acidentado num outro terreno localizado no bairro. O animal caiu no buraco, exigindo novamente a intervenção do Corpo de Bombeiros e, logo depois, de uma retroescavadeira da prefeitura.

Nesse dia, a prefeitura decidiu manter o animal com o proprietário, mesmo constatando que a égua estava com quadro de desidratação, apatia, anorexia e com o olho esquerdo lesionado. Além disso, a situação do animal estava em desacordo com a lei municipal nº 3.057/2007, fato este também de conhecimento da prefeitura.

A prefeitura também verificou que a égua estava pastando em local insalubre e com muitos buracos. Por fim, a égua foi levada para o terreno onde acabou sendo encontrada novamente em situação de maus tratos.

Detalhe: esse terreno também não oferece condições seguras para animais de grande porte. A área conta com piso irregular, buracos e fica às margens de um ribeirão. Mesmo conflitando com a legislação municipal, a prefeitura não se opôs à permanência do animal nesse local, muito menos garantiu a proteção da égua após o resgate ocorrido na última sexta-feira. Aliás, nenhum representante da prefeitura foi até o local para acompanhar o caso.

Em menos de um mês, esse é o segundo equino que morre vítima de maus tratos no bairro. Na vez passada, um cavalo foi encontrado em situação de abandono e com quadro grave de desidratação e desnutrição.

A morte do animal não serviu de alerta à prefeitura, que continuou negligenciando os avisos da população e as denúncias de protetores.

Segundo moradores ouvidos pela reportagem, a prefeitura de Piraju, mais especificamente o Centro de Controle de Zoonoses, tem conhecimento dos casos de maus tratos a animais de grande porte pelo menos desde março desse ano. 

Vale destacar que o cumprimento da lei que protege animais no município está sendo reivindicado há muitos anos pela APRAPI, que chegou a fazer um protesto em frente à prefeitura. Inúmeros ofícios e encontros com a administração foram feitos.

Em agosto de 2018, por exemplo, a diretoria da entidade, até então presidida por Dulce Biguetti, falecida no mês passado, saiu do gabinete do prefeito José Maria Costa com vários compromissos firmados com a administração, como colocação de placas com mensagens alusivas à legislação animal e um trabalho casa-a-casa com os agentes comunitários de saúde.

Também foi acordado que a prefeitura passaria a punir os proprietários que abandonam e/ou maltratam animais. Quase dois anos já se passaram e nada do que foi tratado na reunião saiu do papel.

Animais encontrados em situação de maus tratos continuam sendo devolvidos a pessoas irresponsáveis sem que estas recebam qualquer tipo de punição do município.